Há 25 anos caia o Muro de Berlim

Depois que os russos marcharam sobre Berlim, pondo fim à 2ª Guerra Mundial, os aliadas se reuniram em Potsdam e dividiram o que restou da Alemanha em quatro zonas de ocupação, cada uma controlada por um dos países vencedores: EUA, Reino Unido, França e a União Soviética.

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A divisão da Alemanha traduziu a divisão do mundo nos blocos Leste-Oeste, cujos efeitos permearam os anos da Guerra Fria.

A parte oriental, denominada de República Democrática Alemã (RDA), era tutelada pela União Soviética; a parte ocidental, denominada República Federal da Alemanha (RFA), regida pelos EUA, instalou a economia de mercado, o que lhe proporcionou desenvolvimento meteórico, fazendo com que os moradores da parte oriental emigrassem em massa para lá.

> A ideia de erguer um muro

De 1945 a 1953, quando o governo começou a proibir as saídas, 875 mil pessoas haviam deixado o lado oriental. Destarte a proibição, os alemães orientais continuaram o movimento. Como efeito desse fluxo, e para impedir um êxodo, surgiu a ideia de construir uma barreira física na fronteira.

O boato de que a RDA construiria um muro sobre a linha de fronteira se espalhou pela Europa. Dois meses antes do início da construção, o presidente da RDA, Walter Ulbricht, ao responder a um repórter do lado ocidental, negou a empreitada:

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O serviço de espionagem dos EUA já sabia que há dois anos, em uma reunião dos blocos de Leste (Pacto de Varsóvia), Walter Ulbricht participou a Nikita Khrushchov que fecharia fisicamente a fronteira com Berlim Ocidental.

Em 11 de agosto de 1961 o Volkskammer, um arremedo de parlamento da RDA, autorizou Ulbricht a fechar a fronteira. No dia seguinte o exército da RDA, suportado por forças armadas soviéticas, perfilou-se ao longo da fronteira da cidade dividida. Grades e arames farpados foram posicionados e pontos de vigilância erguidos: era o início da construção do Muro de Berlim.

> Os efeitos do fechamento

As posições das forças soviéticas na fronteira foram um dos mais nervosos eventos da Guerra Fria. Os EUA posicionaram seus tanques face aos soviéticos: eram os blocos Leste e Oeste rosnando em desalinho. 

Uma histeria coletiva tomou conta dos alemãs ocidentais, pois espalhara-se o boato de que era iminente um ataque soviético, o que levou Konrad Adenauer, então premier  da RFA, a dirigir-se à população em cadeia nacional, pedindo calma e desmentindo os boatos.

O então prefeito de Berlim ocidental, Willy Brandt, protestou energicamente contra o fechamento e convocou uma marcha para 16 de agosto de 1961, o que levou cerca de 300 mil pessoas às ruas. Mas a RDA não cedeu e, com a retaguarda da União Soviética, continuou a erguer o muro que por 28 anos separou uma nação.

> O Muro de Berlim

O Muro de Berlim não era uma mera barreira de concreto, mas uma complexa estrutura de 10 obstáculos que tornavam praticamente impossível cruzar-lhe:

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Mesmo com todo o aparato repressivo, milhares de pessoas tentaram cruzar o Muro. Nos seus 28 anos de existência estima-se que cerca de 5 mil pessoas conseguiram fugir, de 150 a 300 morreram tentando romper-lhe e cerca de 300 foram presos na tentativa.

A primeira vítima foi Günter Litfin, morto a tiros pela polícia da fronteira oriental. A morte mais trágica, porque testemunhada por dezenas de jornalistas ocidentais que faziam uma matéria sobre o Muro, ocorreu em 17 de agosto de 1962, quando Peter Fechter, achando que não seria executado na frente dos repórteres, pulou o primeiro muro e fez carreira no que era chamado de “corredor da morte” - o espaço entre o primeiro e último muro. A guarda deu-lhe ordem de parar, mas como ele não obedeceu, crivou-o de balas.

> A queda da União Soviética

No início dos anos 80 o modelo soviético já estava fatigado e não mais tinha como manter o seu exército de 2 milhões de soldados em sentido na Europa Oriental: era a duplicata da Guerra Fria que batia às portas do Kremlin.

A China, para exportar suas faianças eletrônicas para os EUA, concordou em estacionar 1 milhão de soldados nas fronteiras com a União Soviética, o que levou a União Soviética, que já tinha 2 milhões de praças em posição de sentido, a acrescer mais 1 milhão na fronteira com a China: foi um dos últimos estertores da Guerra Fria.

Segundo o doutor em história Angelo Segrillo, em “O declínio da URSS: um estudo das causas”, o golpe de misericórdia no modelo soviético não foi o custo militar, mas a mudança do modelo econômico do fordismo, de produção centralizada e compatível com a economia interna do marxismo-leninismo, para o toyotismo, de produção descentralizada, portanto incompatível com a práxis industrial soviética. Eu discordo do Doutor Segrillo, mas isso não é assunto para agora.

> Mikhail Gorbatchov, a Perestroika e a Glasnost  

Mikhail Gorbatchov, quando assumiu as rédeas da URSS em 1985, montou em um alazão agonizante e enxergou nessa agonia a oportunidade de fazer as transformações necessárias no regime, que se não viessem do Kremlin seriam impostas a ele pelo povo.

Gorbatchov promoveu a Perestroika, que seria a reconstrução econômica da URSS e essa, inevitavelmente, trouxe a Glasnost, que foi a abertura política das repúblicas.

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A partir dali, os regimes do bloco soviético caíram em efeito dominó. Primeiro a Polônia, depois a Hungria, a Tchecoslováquia, a Bulgária, a Romênia e a Alemanha Oriental, que no meio de marchas populares e protestos por eleições livres, pedia a demolição do Muro de Berlim.

> A queda do Muro

Para mim, a primeira marretada no Muro foi dada, em 12 de junho de 1987, pelo então presidente dos EUA, Ronald Reagan que em seu discurso no icônico Portão de Brandemburgo, nas comemorações dos 750 anos de Berlim, dirigiu-se para Gorbachev e o desafiou com a frase que virou cult na cidade: “Mr. Gorbachev, open this gate! Mr. Gorbachev, tear down this wall!", no vernáculo, “Sr. Gorbachev, abra esse portão. Sr. Gorbachev, derrube esse muro!!

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Em 9 de novembro de 1989, em uma coletiva à imprensa, o porta-voz do Politiburo da RDA, Günter Schabowski, anunciou que o Volkskammer acabara de abolir as restrições de viagens ao Oeste, não mais fazendo sentido o Muro.

A decisão só valeria a partir da publicação do ato, no dia seguinte, mas ao ser perguntado quando entraria em vigência o ato, Schabowski respondeu: “imediatamente”.

Tanto os berlinenses orientais quanto os ocidentais ouviam a coletiva. O “imediatamente” desencadeou um clima de euforia nos alemães que saíram de suas casas em direção ao Muro, o símbolo físico da opressão por 28 anos.

Por pouco não houve uma carnificina, pois a guarda fronteiriça não estava avisada da resolução. O que impediu a tragédia foi que a multidão era incalculável e o então comandante da guarda, coronel Harald Jaeger, ao ver o que poderia ocorrer, deu a histórica ordem aos seus comandados do portão da Rua Bornholmer: “Abram a barreira!”. Eram 23 h do dia 09.11.1989.

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Na manhã do dia seguinte, as portas do majestoso Portão de Brandenburgo foram derrubadas por alemães dos dois lados e eufóricos jovens, com marretas, golpeavam o Muro em vários pontos da sua extensão.

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No momento em que eram postas a pique as portas do Brandenburgo, os parlamentares da Alemanha Ocidental, reunidos no Bundestag, a sede do Parlamento, então situado em Bonn, interromperam a sessão e entoaram o hino nacional da Alemanha.

> Enquanto isso, em Jerusalém…

Por ocasião das comemorações dos 25 anos da queda do Muro de Berlim, em protesto pela construção de outro muro, este erguido por Israel, jovens palestinos usam marretas para abrir um buraco no muro que separa Jerusalém da aldeia palestina Bir Nabala, na Cisjordânia.

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Comentários

  1. Muito bom o seu texto. Uma boa aula de história. Parabéns!!

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  2. bela fase da história...de pouco em pouco vamos melhorando como civilização..mas ainda temos muito a percorrer...

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  3. Fora pestistas-bolivarianos. Capitalismo é o que há!

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