Cantareira: onde o mar virou sertão
Ontem o volume de água útil do sistema Cantareira, que abastece a maior cidade do Brasil e uma das maiores do mundo (São Paulo), chegou à marca histórica de meros 5,1% da sua capacidade regular.
O que se aprecia no Cantareira é de uma irresponsabilidade não somente do governo de São Paulo, mas do Brasil: o assassinato de um sistema de águas através da sangria do seu volume.
É como se fosse enfiada uma agulha de grosso calibre na jugular de um ser humano e deixasse a extremidade da vazão esvair o sangue até a voluptuosidade do nada. Foi assim, através da sandice da insustentabilidade, que feneceram prósperas civilizações pretéritas.
Mas, diante de tão desmesurada boçalidade, houve ontem (10) a ação do juiz federal Miguel Florestano Neto, que determinou, liminarmente, que a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE) restrinjam o uso do Cantareira.
A liminar proíbe ainda que o Governo de São Paulo aumente o calibre da sangria através do uso da segunda parte do volume morto, ou seja, impede que o governo, além de enxugar o sistema, torça-o até desidratá-lo completamente.
O pior é que assistimos a morte de um sistema como se isso fosse algo coloquial. Parece que não progredimos em nada na percepção de que não deveríamos estar a singrar os céus se estamos a perder a terra.
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