O PSDB, quem diria, tem um ex-guerrilheiro na chapa presidencial

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Em agosto de 1968, um jovem de 23 anos dirigia um fusca que conduzia os assaltantes que acabavam de roubar o trem pagador Santos-Jundiaí, em São Paulo.

A operação foi cometida pela Ação Libertadora Nacional (ALN), organização guerrilheira liderada por Carlos Marighella. A renda dos assaltos financiava armas com as quais a guerrilha enfrentava a ditadura que tomou o Brasil em 1964.

Em outro assalto, em outubro do mesmo ano, desta feita ao carro-pagador da Massey-Ferguson, no bairro paulistano de Pinheiros, o jovem guerrilheiro foi identificado pela polícia que, não logrando êxito na perseguição, pediu-lhe a prisão preventiva.

Carlos Marighella, diante da perseguição implacável a um dos seus guerrilheiros, conseguiu evadi-lo do Brasil para a França, de onde só retornou após a Lei da Anistia, em 1979.

O guerrilheiro em comento, hoje aos 69 anos, é o advogado e senador da República por São Paulo, Aloysio Nunes (PSDB), escolhido candidato a vice-presidente da República na chapa tucana encabeçada por Aécio Neves.

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Na eleição de 2010, quando o PSDB tentou explorar a atuação de Dilma na guerrilha, Aloysio Nunes postou-se contra:

"Fui mais longe do que ela. Mas isso não me impede de hoje ter uma visão absolutamente crítica, não só da tática, mas da concepção desses movimentos. Atacávamos a ditadura por uma via que não era democrática”, declarou um Aloysio com cuja releitura eu não concordo, pois não é possível imaginar que se derrota uma ditadura com flores: a resistência tem que sangrá-la, pois ela esfacela qualquer coisa que se lhe mova de encontro.

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Embora Aloysio Nunes, hoje, justifique-se com um quê de sartreanismo às avessas, ele goza do meu respeito desde os tempos em que, como FHC, era filiado ao velho MDB, que abrigava todas as legendas proscritas com a ditadura, e se fosse ele o candidato tucano à presidência, estaria eu em maus lençóis para escolher entre dois guerrilheiros de antanho.

Comentários

  1. Francisco Márcio07/07/2014, 10:07

    " e se fosse ele o candidato tucano à presidência, estaria eu em maus lençóis para escolher entre dois guerrilheiros de antanho."
    Deixe de falácia: Vossa Excelência não conhece maus lençóis, se conheceu, foi na outrora Tucuruí... Hoje, Sua Excelência, só conhece de 1000 fios pra cima... Ademais, Sua Excelência já asseverou: "sou fiel ao meu chefe, ao meu partido, se for para votar contrário a orientação partidária, deixo o partido".
    Se o seu chefe decidir que os melhore$ programa$ são os do PT ( e assim, o foi ), assunto encerrado, Vossa Excelência, assim seguirá.
    Deixe para Shakespeare, ser ou não ser.

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    1. Não, nunca tive, fisicamente, maus lençóis, nem em Tucuruí. O meu pai vendia açúcar, arroz, feijão, etc... em sacos de lona branca que, para o varejo, eram dispensados em caixas. A mamãe pegava os sacos, abria - os, costurava 6 sacos juntos, fervia-os e eram os nossos lençóis. E eram ótimos: tenho imensas saudades.
      Sim, sigo as diretrizes partidárias e as defendo com vigor, e quando não quiser segui-las saio do partido. E não está escrito que se Dilma e Aloysio fossem candidatos eu poderia não votar nela. Está dito que eu ficaria em situação psicológica delicada (os maus lençóis) para não escolher o Aloysio, pois a minha relação com ele já foi pessoal, o que nunca ocorreu com a Dilma, e nutro admiração por ambos pois igualmente lutaram na juventude contra a ditadura.
      Não, o dilema do ser ou não ser não é exclusividade do bardo: ele apenas colocou no palco o dilema da humanidade e eu não abro mão de me ver nele todos os dias, ou estaria morto, pois não mais pensaria.
      Você ainda não teve nenhum dilema hoje?!

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    2. Essa dos 1000 fios foi explendorosa, volte sempre!

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  2. Francisco Marcio07/07/2014, 20:06

    A vida desse signatário plebeu é um eterno dilema: carregar o piano, para o deleite de suas Excelências. Até quando?!?
    Quanto as saudades dos lençóis, vou lhe presentear no Natal vindouro. Esse presente, eu consigo encaixar no meu orçamento.

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    1. Ou você muda de classe ou o dilema será por toda vida, pois alguns teóricos até elaboraram sistemas comunistas, todavia, na práxis, não deu certo, pois os líderes revolucionários, de carregadores do piano, só passaram a tomar o lugar dos que ouviam o recital.
      Aceito o presente. O difícil vai ser você encontrar as sacas de então, feitas de juta cozida e descoloridas, o que davam ao plano a textura do tecido egípcio, sem os mil fios, que era para o açúcar não vazar.
      Se encontrar, observe que não mais bastam seis sacas costuradas: devem ser agora doze, pois têm que cobriu dois.

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  3. No porto do sal o que não falta são essas sacas.

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    1. As de hoje em dia são sintéticas. As de juta só as sarrapilheiras, que não servem pois a juta é crua e só ficaria macia em processo industrial. O mero fervimento caseiro não as coze.

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