Chiquinha Gonzaga: uma mulher um século à frente do seu tempo

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Francisca Edwiges Neves Gonzaga, Chiquinha Gonzaga, foi a primeira mulher no Brasil a compor e tocar choros. Também compôs a primeira marchinha de carnaval com letra, e foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.

Isso em uma época em que a sociedade era comandada por homens que sequer aceitavam que as esposas saíssem sozinhas às ruas.

Eu dancei muito a primeira marchinha com letra que ela compôs e cantou, em 1899, para o cordão “Rosa de Ouro”: “Ô Abre Alas”.

> Mulata

Chiquinha foi fruto da união eventual de um general do Exército Imperial com uma negra. O pai lhe escolheu um padrinho especial: Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias.

Sentindo-lhe o gosto pela música, o pai contratou um dos melhores maestros do Rio de Janeiro para ensina-la ao piano, e aos 11 anos ela escreveu a sua primeira composição: uma música natalina chamada “Canção dos Pastores”.

Mas a paixão dela eram os ritmos populares, como o lundu e a umbigada: o sangue materno atiçava-lhe pelos cantos que os escravos trouxeram nos porões dos navios negreiros.

> Casa e separa

Por imposição do pai casou-se ao 16 anos. O casamento protagonizou a primeira “afronta” de Chiquinha à sociedade: como o marido deu ordens para que ela “não se metesse com música”, mandou o oficial da Marinha navegar e separou-se. Um escândalo...

Para criar o único filho que ficou com ela, passou a dar aulas particulares de música, canto, francês, geografia, história e português.

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Depois de outra união, e outra separação, resolveu casar com a música. O sucesso foi imediato e, em pleno século 19, passou a ser uma das compositoras mais requisitadas do Rio de Janeiro.

> Dedicação à música

O seu talento a introduziu no teatro, onde estreou, em 1885, com a trilha sonora da opereta "A Corte na Roça".

Outro prodígio de Chiquinha Gonzaga foi a opereta “Forrobodó”, com 1500 apresentações seguidas: até hoje, o recorde do gênero no Brasil.

> Paixão proibida

Aos 52 anos Chiquinha apaixonou-se por João Lage, um músico de 16 anos. Manteve o romance escondido dos mexericos do Rio e resolveu mudar para Lisboa.

Na Europa tornou-se amiga e confidente da primeira caricaturista do mundo, Nair von Hoonholtz. No retorno ao Brasil, Nair veio passar uma temporada com ela e, vejam a troça: casou-se com o presidente do Brasil, Hermes da Fonseca.

> Bailes do Catete

Era o início do século XX, e o Palácio do Catete passou a ser palco de bailes que Chiquinha e Nair protagonizavam. Mas, em um baile de 1914, o caldo entornou quando a própria primeira-dama do Brasil pegou um violão e acompanhou Chiquinha em um maxixe: foi o maior escândalo da República, rendendo manchetes e burburinhos do Oiapoque ao Chuí.

> Produção invejável

Aos 88 anos Chiquinha Gonzaga foi levada pela ceifadora. Deixou uma obra composta de 77 peças teatrais e cerca de duas mil composições de vários gêneros, que até hoje ouvem-se como contemporâneas.

Compôs todos os gêneros e não é possível escolher algo como sendo a sua melhor obra, pois cada uma tem as suas peculiaridades.

Assisti o sertanejo Daniel fazer o que, para mim, é a mais preciosa defesa de “Lua Branca”, ei-la abaixo como queda de pano:

"Ó, lua branca de fulgores e de encanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar essa paixão que anda comigo..."

A defesa de Francisco Petrônio e Dilermando Reis é outro primor, que pode ser encontrada no quadro depois de Daniel.

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Comentários

  1. Haroldo Fernandes11/12/2013, 16:23

    Valeu, Deputado! Um bom presente essa postagem e poder reviver essa época de novo.

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