Black bloc: quando o real é o virtual

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Na alvorada do “Levante de Junho”, quando vi jovens de preto, e trajando máscaras, no ventre da primeira grande manifestação de São Paulo, vandalizando estabelecimentos ao longo da Rua da Consolação, vieram-me à mente imagens que assisti em Seattle, em 1999, durante protestos contra a Conferência da Organização Mundial do Comércio. Identifiquei ali a chegada da “Black bloc” ao Brasil.

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No dia seguinte, a “Folha de S. Paulo”, ao noticiar que o vandalismo fora perpetrado pelo “Black bloc”, acertou na origem, mas errou no gênero: não é “o”, mas “a” Black bloc, pois o termo não identifica um grupo, mas uma tática. A imprensa adotou o masculino e acha que o termo é substantivo, quando, na verdade, é adjetivo.

> Desde 1999 a BB se franqueou pelo mundo

Postei sobre o assunto e recebi contestações: alguns acusaram-me de fantasiar, mas hoje é luminar que a Black bloc estabeleceu-se no Brasil e vampiriza as manifestações populares.

Desde Seattle a tática se expandiu pelo mundo, o que lhe dá a característica adjetiva da franquia. No Brasil ela se consolidou, principalmente, no Rio de Janeiro, onde as manifestações prosseguem.

> Perfil temático

Os que se valem da tática têm uma característica comum: são anarquistas e se bastam em desafiar o establishment. Optam pela infiltração nas grandes manifestações porque nelas se podem esconder no anonimato, ao mesmo tempo em que se tornam notados.

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No Brasil, como em outros locais onde fatos sociais similares ocorrem, a ação Black bloc alcança a finalidade, que é tomar o foco das manifestações, mas tem como substrato um prejuízo aos movimentos nos quais se infiltram, pois a população passa a misturar as partes e a repelir o todo.

> Perfil sociológico

O canadense Robert Muggah, desde 1999, estuda a Black bloc nas redes sociais e identifica os sujeitos: jovens entre 19 e 25 anos, com nível escolar acima da média, que nasceram na era da internet e dominam as ferramentas virtuais com desenvoltura e intimidade, ou seja, são um corte da chamada “Geração Z”, extremamente conectada e capaz de interagir instantemente.

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> Reação

A polícia procura identificar os sujeitos, para tentar conter o predicado, achando que com isso poderá evitar-lhes a ação em 2014, quando as manifestações deverão retornar com fôlego redobrado, devido a visibilidade que o Brasil terá com a Copa.

A Polícia perderá se não se prover de inteligência cibernética. Em uma magnífica inversão da realidade a qual nos acostumamos a viver, no caso da Black bloc, o combate no asfalto é apenas o cenário virtual: o cenário real é a grande rede.

Comentários

  1. Parsifal

    Excelente post, sua interpretação é perfeita. Por sinal você está escrevendo muito bem, daqui a pouco teremos um Euclides da Cunha paraense.

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  2. gostei do período: o combate no asfalto é virtual, o real é na rede. Mt bonito.

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